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QUEM FOI QUE IMAGINOU; E ESCREVEU ?

QUEM FOI QUE IMAGINOU; E ESCREVEU ?

 
Eram dez horas e tres quartos,Teresa correra ao fundo do quinta,abrira a porta, e como se nao visse alguem,tornou de corrida para a sala. No momento porem,de subir a escada que ligava o jardim á casa, Baltazar Coutinho que a espiava desde que ela saiu da sala,chegou a uma das janelas sobre o jardim, bem longe de imaginar que a via. Retirou-se e entrou com...
Teresa na sala, ao mesmo tempo por diversa porta. Decorridos alguns minutos, a menina saiu outra vez e o primo tambem.
Teresa ouviu á distancia, o estrepito de um cavalo,quando passou ao patamar da escada. Baltazar tambem o ouviu,e notou que sua prima,receosa de ser vista e conhecida pela alvura do vestido,levava uma capa ou xaile que a envolvia toda. O de Castro Dair, fez pe atrás para nao ser visto.
 
 
 
 
 
eram dadas cinco da tarde, a calma declinava. Montamos a cavalo e cortamos por entre os viçosos pampanos, que sao a gloria e beleza do Cartaxo. As mulinhas tinham refrescado e tomado animo: breve nos achamos em plena Charneca. Vela e basta planicie! Desafogada dos raios do sol,como ela se desenha ai no horizonte tao suavemente! Que delicioso aroma selvagem ...
que exalam essas plantas, acres e tenazes de vida,que cobrem e que resistem verdes e viçosas a um sol portugues de Junho!... A doçura que mete na alma a vista referigerante de uma jovem seara do Riibatejo nos primeiros dias de Abril, ondulando lascivamente com a briza temperada da primavera; a amenidade bucolica de um campo minhoto de milho á hora da rega,por meados de Agosto a ver-se-lhe pular os caules com a agua que lhe anda por pé, e á roda as carvalheiras classicamente desposadas com a vida coberta de racismos pretos-sao ambos, esses quadros de uma poesia tao graciosa e cheia de mimo,que nunca a dei por bem traduzida nos melhores versos de Teocrito ou de Virgilio, nas melhores prosas de Gesner ou de Rodrigues Lobo.
 
 
 
 
A Gazeta do Porto, com a Correspondencia vingadora,devia desabafar sobre Oliveira na quarta feira de manha dia dos anos da prima Maria Mendonça. Mas Gonçalo ainda que nao ressalvado pelo seu pseudonimo de Juvenal) uma briga grosseira com o cavaleiro nas ruas da cidade,nem mesmo com algum dos seus partidarios servis e façanhudos,como o Marcolino do Independente- recolheu discretamente a santa Ireneia na terça-feira, a cavalo,acompanhado pelo Barrolo ate á vendinha,onde ambos provaram o vinho branco celebrado pelo Titó.Depois para recordar os lugares memoraveis em que na sua novela se encontravam, com desastrado choque de armas, Lourenço Ramires, e o Bastardo de Baiao tomou o caminho que atravessando os pomares da espalhada aldeia de Canta-Pedra, entronca na estrada dos Bravais. Num trote folgado passara á fabrica de vidros, depois o cruzeiro sempre coberto pelas pombas que esboaçavam do pombal da fabrica. Eentrava no lugar de Nacejas-quando, á janela de uma casinha muito limpa,rodeada de parreiras, apareceu uma linda rapariga,morena e fina, com jaqué de pano azul e lenço de cambraieta bordada sobre fartos bandós ondeados. Gonçalo sopeando a égua,saudou, sorriu suavemente: Perdao, minha menina... vou bem por aqui para Canta-Pedra?... Vai sim senhor. Em baixo, á ponte,mete para a direita,para os alamos. E é sempre a seguir...
 
 
 
 
SOMBRA NEGRA na minha vida ora e sempre,o Tenente da Cruz, que havia jurado tirar-me o chiadouro depois que empalmei Brizida ao pai, pela qual se chorava ainda de morte. Mais de ano que os meus caminhos andavam desencontrados de semelhante piranga. Por mor de uma briga em que se envolvera e de que resultara homem morto,tivera de largar á revelia,e por lá andou muto tempo a pontos de ninguem falar nele. Vai se nao quando apareceu um sabado na feira de Barrelas,mais farcela que nunca montado numa egua pimpona. Teve bons padrinhos o safado,como nao podia deixar de ser,porque alem de rico e poder abafar a justiça com gordas peitas, nunca perderam a simpatia dos fidalgos, ia dizer de nos todos, estes corredores de valentia e arruaça. Matam e perdoa-se-lhes se foram destemidos a matar. Enfim, fosse como fosse, o ladrao voltou á praça e eu, e eu ás scondidas da Brizida pus-me a afiar a faquinha. Fiquei com a pulga na orelha e bem aja eu. Mais de um que me dizia, se acertava confessar meus receios... estes Excertos pertensem ao livro... com o titulo... da autoria de... Responda-me, e mostre o que sabe, sobre...
 
 
 
 
A cama do alemao tinha ficado,como disse,por baixo do meu buraco de observaçao.O meu vizinho deitou-se e soprou a vela. O quarto ficou ás escuras, e eu senti os culchoes que rangiam com o peso do corpo que se ageitava para dormir.Ah!... tu amas o murmurio dos espiritos invisiveis?... exclamei eu dirigindo-me mentalmente ao filosofo que me ficava do outro lado do muro. Aprazem-te as ondulaçoes das muleculas da vida animal que vagueam dispersas no espaço, procurando o sopro misrioso que as condense para entrarem na corrente dos seres vivos?... Queres encadear ao teu espirito esses elos informes e incoerciveis,que ligam o mundo das coisas conhecidas ao mundo dos seres ignotos?.Ora vamos la a ver como tu empregas as tuas faculades de médio...
E pensano isto,bati-lhe com os nós sos dedos na parede tres pancadinhas secas,metodicamente espaçadas como as dos sinais maçónicos.
Senti roçar a mao dele pelo papel que forrava o muro,como quem procurasse apalpar algum sinal do rumor que ouvira. Entrei entao a repetir com sucessiva frequencia o rebate que lhe dera percorrendo diferentes pontos da parede que servia de fundo ao armario. Percebi que ele se sentava na cama. Ouvi estalar um fosforo.
Acendeu-se a luz.Parei ouve uma pausa....A que livro pertence este excerto,qual o titulo, e nome do escritor?... Literatura portuguesa,antes do Estado Novo.
 
 
 
 
Tinham decorrido quatro horas de aturada quagitaçao na vida de Guilherme do Amaral, quando ele juiz de si proprio,decidiu que amava a pobre costureira, de suspensorios. Estas quatro horas foram as decorridas desde que ele se despediu, da rua dos Armenios, onde o deixamos no antrior capitulo, ate que se vestiu para assistir a um jantar de despedida,que lhe era dado pelo marido de D.Cecilia.Ai como é de estilo,depois de esgotadas as saudaçoes á ilustre dona da casa,voltaram-se as atençoes um pouco alcolizadas para Amaral. Alguns maridos suspeitos foram os primeiros a recitar as virtudes do provinciano.Damas insuspeitas aceitaram as opinioes de seus maridos com estrepitosos aplausos. Convinavam-se perfeitamente. Veio dpois o sentimentalismo de esfalfada etiqueta carpindo a saida dum mancebo, a rodos os respeitos, lustre e ornamento da boa sociedade.Era tudo pretexto para beber: bailava a lagrima nos olhos rubidos dos convivas,ao mesmo tempo que o férvido champanhe os ressarcia dos liquidos perdidos pelas glandulas lacrimais.
Um deputado,com a fronte ainda iluminada da auréola oratoria,conquistada em lides parlamentares sobre o fabrico de azeite de purgueira (vide o diario do governo de 1843)de pé,arfando as pandas ventas ao resfolgar da inspiraçao, cabelos hirtos,e olhos injetados de sacro fogo,falou assim... Quem escreveu a obra, a que pertencem estes excertos... Qual o nome do seu titulo...
 
 
 
 
 
 
QUANDO o sol os esculpiu inteiramente,ao fundo do barranco,defenindo-lhes bem as figuras e os gestos,ate esses momentos imprecisos á luz dos faróis,Amaro distribuia-lhe a raçao de cachaça,com o Bonifacio ao lado, e o cao aos pés. Servia-se de uma tigelinha de folha,dessa que os seringueiros empregavam na recolha do látex e por sua iniciatva ou ordem de Nimuenda jú,talvez ate porque as maos lhe termiam,enchia-a, a transbordar,ao contrario do que sucedera nos ultimos dias.Algus bocejavam ainda.E Euleutério,que parecia o unico de bom humor matinal,perguntava piscando um dos olhos: Depois deste nao ha mesmo outo porre? Nao ha? Entao dobre,si faz favor... Dir-se-ia que os homens nunca haviam pensado naquilo. Mariano pousou no chao o paneiro com duas galinhas,mais um galo,tambem os pés de mandioca, e de inhame que levava,e pos-se a beber lentamente. Os outros imitavam-no, saboreando o alcol, enquanto lançavam um olhar moroso para o rio que iam subir ou para a aldeia dos Muras-Piraás,derradeiro posto da civilizaçao naquelas imensas profundidades. Depois foram embarcando.Nimuenda ju, descia a ribanceira de maleta na mao,sozinho, e o seu vulto de tao recortado na luz da manha,sobre a terra escura e gretada,parcia baixar assim solitario,pelos velhos rochedos dum deserto,pelos do Saara, todos agrestes e requeimados pelo sol,ha incontestaveis milenios...
 
 
 
 
 
CHEGARA,a faina das colheitas.Desde manha nascente Santa Efigiena vivia horas de alvoroço,com as ranchadas de trabalhadores,uns de sacola ao peito,outros com escadas e lençois ao ombro,dirigindo-se para o cafézal,sob o olhar do feitor.Passava-se o ano á espera desta epoca,entregando-se lhe todas as esperanças,aguardando dela compensaçoes para o trabalho,e dinheiro gastos na carpa e noutros cuidados exigido pelo cafeeiro, e agora nao havia maos a medir,pois o tempo urgia e éra preciso nao deixar que o café torra-se no arbusto. Alegria de colher fazia vivrar toda a fazenda,contageando ate aqueles a quem a produçao farta ou mesquinha nao beneficiaria diretamente. Nunca se cantava tanto em Santa Efigenea como nesses dias em que as maos passavam sobre as varetas dos cafeeiros,desprendendo os granulos para dentro dos sacos que os homens traziam á tiracolo ou para os lençois estendidos na terra.O Cafezal alinhado,verde,luzidio,parecia mais lindo naquele periodo,com os seus frutos vermelhos,como cerejas pequeninas e ovais a oferecerem-se aos olhos de quem se lhes abeira-se.
Como se chamava o autor, e o titulo da obra, a que pertencem estas linhas...
 
 
 
 
Ouça e depois zombe.Conhece ali o Miguel de Malafaia,o fidalgo de Santa Maria das Aguias ? Sabe que é deputado, e que o irmao,um dos grandes homens da monarquia liberal,esta á coca de ser ministro?... Fui muito das relaçoes do sogro,o Matagatos--foi gente com que nunca tratei--tornou o senhor Chinoca--mas aviei muita receita para a senhora. Era uma histerica...Afinal, padre mestre, nunca se chegou a abriguar se o Matagatos se matou ou morreu de morte natural?... Opino pelo suicidio.Ora tinha desbaratado a fortuna,farto de gozar, filhos arrumados,acabou como romano.Já lá esta...que a terra se lhe seja leve...E o senhor Chinoca,numa grande cabeçada para o ar, parcia lançar agravos antigos aos ventos do esquecimento.
Ainda bem que as meninas encontraram maridos ricos e da sua igualha.
É verdade,mas o que o padre-mestre ignora,enbora nao seja de hoje, é a desordem profunda que lavra lá pela familia.Perdo-e se ofendo as sua orelhas castas,mas vem á historia dos frades do Espirito Santo,A D. Estefanea,creio que é das duas Matagatos a mais velha, éra o que se sabe,uma rapariga nova,espiritual,boa de se lhe lamber o beiço. O Malafaia,que é um babosao,cobriu-a de regalos, e levou-a para a capital. Aqui foi a asneira; ele nao é idoso nem bolonio de todo,mas ja nao é daqueles que se aguentam com gado mosqueiro. Acha-lhe graça? Pois é o que lhe digo, o Malafaia em negocio de amor,é dos que sao maridos das mulheres dos outros...
Gostaria que alguem me informa-se, em que obra literaria se encaixam estes excertos, e quem a escreveu...
 
 
 
 
 
A inteligencia humana,disse o Tio Porco,pertence a uma das tres categorias. A primeira categoria é a inteligencia cientifica.É a sua, senhor chefe Guedes.
A inteligencia cientifica examina os factos,e tira deles as suas conclusoes imediatas.Direi melhor: a inteligencia cientifica observa,e determina,pela comparaçao das coisas observadas,o que ve...
m a ser os factos. A inteligencia filosofica extrai dos factos o facto. Isso esta muito bem dito,atalhou Quaresma.Esta pelo menos compreensivel,respondeu o Tio Porco.Ora,alem destes dois tipos de inteligencia,ha outro, a meu ver superior,que é a intelgencia critica.Eu tenho a inteligencia critica, acrescentou com naturalidade.Ora as falhas da inteligencia cientifica,e da inteligencia filosofica sao de duas ordens -as falhas gerais e as falhas particulares.Por falhas particulares, entendo as falhas peculiares de cada caso, que nao pertencem á essencia desse tipo de inteligencia, mas ao seu contacto com determinado assunto.
Por falhas gerais entendo,é claro,aquelas que sao substanciais nesse tipo de inteligencia. Ora a falha essencial da inteligencia cientifica,é crer que ha factos.Nao ha factos,meus amigos,ha so preconceitos.
Quem nao conhece... Este grande genio...o escritor, o poeta, o filosofo...
Homem grande, de Portugal e do mundo...Conhece,pouco da sua cultura.
 
 
 
 
 
19,4,1920, ás 4 da madruga.
Meu amorzinho,meu bebe querido.
Sao cerca de 4 horas da madrugada e acabo, apezar de ter todo o corpo dorido e a pedir repouso de desistir defenitivamente de dormir.Ha tres noites que isto me acontece,mas a noite de hoje,entao,foi das mais horriveis que tenho passado em minha vida.Felismente ...
para ti, amorzinho,nao podes imaginar. Nao era so a angina,com a obrigaçao de ter que cuspir de dois em dois minutos que me tirava o sono. É que sem ter febre,eu tinha delirio,sentia-me endoidecer,tinha vontade de gritar,de gemer em voz alta,de mil coisas desparatadas. E tudo isto,nao só por influencia direta do mal estar que vem da doença, mas por que estive todo o dia de ontem arreliado com cousas, que se estao atrasando relativas á vinda da minha familia,e ainda por cima recebi por intermedio do meu primo,que aqui veio ás 7,uma serie de noticias desagradaveis,que nao vale a pena contar aqui,pois,felizmente,meu amor,te nao dizem de modo algum respeito.Depois estar doente,exactamente numa ocasiao em que tenho tanta cousa urgente para fazer,tanta cousa que nao posso delegar em outras pessoas.Ves,meu Bébé adorado,qual o estado de espirito em que tenho vivido estes dias,estes dois ultimos sobretudo?...
Temos aqui,metade de uma das muitas cartas... que o grande iluminado, portugues, escreveu, para a sua amada Eufélia!...
 
 
 
 
 
 
Para fugir ás perrarias do genro,muita gente aconselhou a velha, a ir viver em Lanhosa,com o filho Antonio. Baldada empresa: Nem rogos nem ralhos houveram jeito de a fazer despegar daquela casa.Ali fora nada,ali queria que lhes fechassem as palpebras ao dar o ultimo suspiro. Lá tinham atado os queixos, e armado o celário a seu pai que Deus aja: O Antonio éra um paz de alma,carregado de crianças, negrinhas,de trabalhos e de penas,que a mulher dera em bebedona,nao éra ele que negava á triste da mae velha uma tijela de caldo, se lhe batesse á porta. Ela porem queria acabar na sua casinha, dizer dali adeus ao mundo. Nao teimassem!... Escouceada ora e logo,buscava a amizade do bispo,com o qual fora sempre escassa de carinhos. O seu regalo era mandarem-na com ele para as sachas e mondas,deixarem-nos o dia inteiro sós a sós. Já em casa, toda ela era falinhas doces para o sapo-concho. Joaozinho!... nao bebas do cantaro: agua fria sarna cria.
Joaozinho...nao saias por escuro destes,que te podem dar uma calhoada!...Joaozinho para aqui, Joaozinho para ali,passava as marcas: o Maneto pos-se de pe atraz,desconfiado.Quando Deus quer, alguma tramavam contra ele.
Um dia abalou de peito feito a ter com Bispo,que guardava as vacas na regada...
 
 
 
 

 
Era Valentim que entrava na sala,com expressao de intimo contentamento no rosto,e nao sei que suave alegria no coraçao,como sempre sentia ao entrar na casa de Alvapenha.As duas irmas acercaram-se dele com ansiosa solicitude.Parecia devorare-lhe aquela fisionomia placida,que nao refletia nada das tempestades interiores,se as havia,pois podiam ter-se originado naquele peito que de pequeno se conhecera votado as coisas divinas,e aceitara sem exteriorizaçao de saudade pelas coisas terrenas,o destino que haviam traçado no berço.Valentim nunca deixara de perceber que o amito lhe pesava nos ombros, que as maos vacilavam a sustentar o cálix, o simbolo da fé, nem que as lagrimas humedeciam, em noites de angustiosas vigilias,o leito solitario. Se era mártir,tinha a fortaleza do martirio,sob o crepe do sacerdote,lhe palpitava o coraçao ainda rico de vida, nem no rubor das faces se lhe traia essa agitaçao comprimida. E por isso lhe festejavam a vinda e suspiravam por o glorioso dia em que o tinham de ver, revestido de todas as dignidades sacerdotais, entre pela primeira vez,no altar do Senhor, pagar com a sagrada bençao as carinhosas bençaos maternais, e as de tantos que o viam caminhar seguro pelo caminho da fé. D.Genoveva, depois de muito o observar em silencio, e de o fazer sentar na mais comoda cadeira da sala,ficando ela em pé defronte do futuro sacerdote, e nisto acompanhada por sua irma,passou a informar-se do adiantamento de Valentim na carreira eclesiásticas.--- Entao, entao, quando temos missa nova?...
quando mo permitir a idade. Ainda nao tenho 25 anos.

Este escritor portugues... como é sabido, nasceu no Porto em 1839, e chamava-se... escreveu a Morga.... e este excerto, faz parte do romance...
 
 
 
 
Mas esse ano passou, outros anos passaram. Por uma manha de Abril,nas vesperas de Pascoa.Nao o esperavam tao cedo,e como era o primeiro dia bonito dessa primavera chuvosa,os senhores andavam para a quinta. O mordomo, o Teixeira,que iam ja enbranquecendo,mostrou-se todo satisfeito de ver o senhor administrador com quem as vezes se correspondia e conduziu-o a sala de jantar onde a velha governanta,a Gertrudes,tomada de surpreza deixou cair uma pilha de guardanapos,para lhe saltar ao pescoço.As tres portas envidraçadas estavam abertas para o terraço,que se estendia ao sol com a sua balaustrada de marmor coberta de trapadeiras, e Vilaça,adiantando-se para os degraus que desciam ao jardim,mas pode reconhecer Afonso da Maia naquele velho de barba de neve,mas robusto e corado,que vinha subindo a rua de romazeiras com o seu neto pela mao.
Carlos ao avistar no terraço um desconhecido, de chapeu alto,abafado num cache-nez,de pelucia, correu a mira-lo,curioso --- e achou-se arrebatado nos braços do bom Vilaça, que largara o guarda--sol,o beijava pelo cabelo, pela face balbuciando: Oh! meu menino,meu querido menino! que lindo que esta... Entao sem avisar,Vilaça ?--exclamava Afonso da Maia,chegando de braços abertos. Nos so o esperava-mos para a semana..."
 
 
 
 
 
Nao esta mais na minha mao,nao gosto ! -- disse o Vilaça --- Acho imprudente !
Entao Afonso bateu as palmas, o abade gritou bravo,bravo. Vilaça voltou-se para aplaudir,mas Carlos tinha ja desaparcido; o trapezio parava em oscilaçoes lentas; e o Borwn,retomando o Times que pusera ao lado sobre o pedestal dum busto,foi descendo
para a quinta envolvido numa nuvem de fumo do cachimbo.
Bela coisa , a ginastica ! -- exclamou Afonso da Maia,acendendo com satisfaçao outro charuto. Vilaça ja ouvira que enfraquecia muito o peito. E e o Abade depois de dar um sorvo ao cafe,de lamber os beiços, soltou a sua bela frase,arranjada em maxima:
Esta educaçao faz atletas mas nao faz cristaos. Ja' o tenho dito...
Ja' o tem dito Abade,ja'?--exclamou Afonso alegremente.--- Diz-mo todas as semanas... quer voce saber, Vilaça? O nosso Custodio mata-me o bicho do ouvido para que eu ensine a cartilha ao rapaz.A cartilha !...
Custodio ficou um momento a olhar Afonso,com uma face desconsolada e a caixa de rape' aberta na mao; a irreligiao daquele velho fidalgo,senhor de quase toda a freguesia,era uma das suas dores: A cartilha, sim meu senhor,ainda que v.exa,o diga assim com esse modo escarniça...
Ha' outras coisas. E se o digo tantas vezes,Sr. Afonso da Maia,e' pelo amor que tenho ao menino. E recomeçou a discuçao que voltava sempre ao cafe', quando Custodio jantava na quinta. O bom homem achava horroroso que naquela idade.um tao lindo moço,herdeiro de uma casa tao grande, com foturas responsabiliidades na sociedade,nao soubesse a sua doutrina. E narrou logo ao Vilaça a historia de D.Cecilia Macedo: Esta virtuosa senhora,mulher do escrivao, tendo passado diante do portao da quinta, avistaria o Carlinhos, chamara-o, carinhosa,e amiga de crianças como e', e pedira-lhe que dissesse o ato de contriçao,e que respondeu o menino?... Que nunca em tal ouvira falar. Estas coisas entristeciam !... E o senhor Afonso da Maia achava-lhe graça, ria-se !..."
 
 
 
 
O pastor da flauta,que nao era pastor,teve aquela noite, maneira como,com um pau que colheu, arribou a' fresta, e ja estava nela, quando começaram o solau. Bem conheceu na limpeza das palavras e na pronunciaçao delas, que era natural desta terra e avisada,por onde logo receou que, se nao tivesse nela ajuda,que teria grande estorvo. Encomendou-se a'sorte. Acabou a ama de penar a criada,que nao foi pensada sem muitas lagrimas de ambas as duas, del e de Aonia,que penteando-se esteve em mentes, segundo sentiu Bimnarder, que ele nada de dentro podia bem divizar pelo impedimento de um pano que diante da fresta estava para amparo dela.
Acabada a menina de pensar,apagando o lume se deitaram elas. E, porque a ama tinha sua suspeita,fez que dormia, para espreitar Aonia, e Aonia porque tinha seu cuidado,nao podia dormir,e ora se revolvia para uma parte,ora para a outra. E outras vezes, apos um assossego de um pouco,colhendo folgo,dava um baixo suspiro longo,a' maneira de cançado, daquilo que acabava de cuidar. Esteve tudo a ama notando por um grande pedaço. E ja Bimnarde estava para se descer,cuidando que era outrem a que fazia aquilo,senao quando a ama começou assim a falar escontra a Aonia.Nao dormis, senhora Aonia? E' que sera'senhora, se nao podeis dormir? parecendo-me vai que esta nossa vinda aqui para desastre foi e nao mais.Mas assim de longe os ordena eles a ventura,que logo ao começo se nao podem conhecer.Mal cuidara eu o que havia acontecer a senhora Belisa,quando aquela noite, depois de dormirem todos, nos alevantamos nos todos sos clandestinamente, e pelo laranjal do jjardim,que com a espessura do arvoredo, fazia entao escuro, passamos cheias de medo. E vos pregada a mim toda tremendo,fomos sair pela portinha falsa acola' no mais escuro lugar dele estava,onde achamos a Lamentor aguardando-nos ja havia pedaço,todo cheio de esperanças, nao mais. Por isso cumpre a todas as pessoas, e as donas senhoras, muito mais cumpre,pois sao as que aventuram mais, que ao principio das cousas olhem onde elas podem ire parar,que nao nenhuma camanha que no começo dela se nao possa resistir ou leixar sem trabalho,que muitos rios grandes ha ai que onde nascem se podiam impedir com um pe, ou levar para outro cabo,e no meio deles ou depois que lhe colhem forças todo o mundo os nao poderam tolher ou mudar... CLASSICOS DA LINGUA PORTUGUESA."
 
 
 
 
Que tenciona fazer?-- prossegue o hospede,reparando na rara beleza daquela obscura mulher.--- Eu, senhor? Sim, tenciona viver sozinha? sem parentes...
Eu, nao tenho senao um primo, que tambem e' orfao,mas cada qual vive em sua casa. Ja sei que o seu modo de vida e fazer alças. E' sim meu senhor. Foi a ti Ana que lhe disse? Foi. Q
uanto ganha por dia nesse trabalho?
Fazendo serao ganho tres vintens. E vive com isso? Ate aqui vivia,porque minha mae ganhava quatro vintens a dobrar seda, daqui em dianta sera o que Deus quizer.
Mas isso nao lhe chega... A menina se tivesse uma casa onde podesse servir como criada de sala,levava muito melhor a sua vida. Nao duvido que sim,mas eu quero viver e morrer onde viveu e morreu,minha mae e meu pai,que Deus tenha na sua santa gloria. Dis-me o coraçao, que se eu sair da minha casinha,eide ser desgraçada. Conheço muitas raparigas, que foram servir, e poucas deram boas saida.
Quase todas andam por ai, hoge numa casa amanha noutra,e quando Deus quer, mais pobres e infelizes,do que sairam da mizeria,atraz dos ganhos.
Uma das coisas, que me admiram, nao e' tanto o seu bom juizo, como a menina estar ainda solteira. Quantos anos tem?... Vinte meu senhor.
E nao tem querido casar-se?
Augusta fez-se da cor da cereja,e nao respondeu.
Nao tem de que envergonhar-se--- tornou Guilherme,empenhando-se na conversa com vivo interesse,a que o coraçao... ou a fantazia ja nao era estranha.--- Eu nao quero ser seu confessor, isto foi uma pergunta que nao deve magoa-la.
--- Vossa senhoria nao me magoou, mas ... nao sei se a gente deve dizer tudo que sente. Pelo menos aquilo que nao nos envergonha, pode dizer-se a toda a gente,
e o que nos envergonha,ou se nao diz, ou se diz a um confessor.
FOI ... POSSIVELMENTE MAIOR ESCRITOR, DO ROMANTISMO EM PORTUGAL."
 
 
 
 
OS EXCERTOS QUE SE SEGUEM.
No dia seguinte ao dos Reis partiram pra Lisboa como estava determinado.
Q concelheiro e o Angelo,o que deu lugar ao Mosteiro e muitas saudades.
O concelheiro devia voltar so por ocasiao das eleiçoes gerais que estavam proximas.

Alguns dias depois,num domingo em que se festejava na aldeia o padroeiro Santo Amaro,de quem reza a Igreja a 15 de janeiro, estava o Henrique de Souzelas na sal de jantar de Alvapenha, escutando sua tia Maria de Jesus,que depois de por em arranjo a cozinha, viera segundo o costume patriarcal,tomar parte na sala na conversa do pospasto,auxiliava a memoria da ama, sempre que esta emperrava e corregia-lhe as involuntarias e frequentes enexactidoes em que a via cair.
Henrique habituara-se ja a estes placidissimos habitos, e, apesar de nao ligar atençao a conversa, ou por isso mesmo, que lha nao ligava achava-lhes certas virtudes estomacais, que lha tomavam agradavel. Depois de muitas voltas a conversa caiu sobre a ocorrencia do auto dos Reis. Eu ainda estou para saber como aquilo foi!
-- Dizia D.Doroteia--Quado me lembro! Como aquela rapariga falava!
O'senhora,olhe que ja me disseram que a pequena tinha espirito-- disse Maria de Jesus com ar de misterio. Olhem o milagre --- respondeu D.Doroteia --- por essa estou eu -- Diz que desde aquele dia, anda amarela e triste que nem parece a mesma. --- entao e' mais duque certo.
Ai a tia Doroteia tambem com crendices !-- disse Henriquue rindo.--- Entao parece-lhe que traz espirito aquela creança?
Pois menino,aquilo a falar verdade!... E nao e'mais natural supor que alguem lhe ensinou os tais versos? Mas quem? se o Pertunhas diz que os versos erram outros,e que aqueles ate nao cabiam bem nas loas?
O Perunhas e' um parvo. Ouve alguem que ensinou aquilo a' pequena,e ate suspeito com que fim. Nao Senhor Henriquinho, olhe que ali anda coisa ruim !...
COMO SE CHAMAVA O TITULO."
 
 
 
Enquanto o compadre aflito procura por toda a parte o menino,sem que ninguem lhe possar dar novas dele,vamos ver o que e feito de Leonardo,em que novas alhadas esta agora metido. La para as bandas da cidade nova havia, ao pe de um charco,uma casa coberta de palha, da mais feia aparencia,cuja frente suja e testada enlameada bem denotavam que dentro o asseio nao era muito grande.Compunha-se ela de uma pequena sala,e um quarto,toda a mobilia eram dois ou tres assentos de pau,algumas esteiras num canto e uma enorme caixa de pau,que tinha muitos empregos,era mesa de jantar,cama guarda--roupa e parteleiras.Quase sempre essa casa estava fechava,o que a fazia rodear de certo misterio. Esta sinistra morada era habitada por uma personagem talhada pelo molde mais detestavel.Era um caboclo velho,de cara hedionda e imunda,e coberto de farrapos. Entretanto para admiraçao do leitor,fique-se sabendo que este homem tinha por oficio dar fortuna!...
Naquele tempo acreditava-se muito nestas coisas, e uma sorte de respeito superstcioso,era tributado aos que exerciam semelhante profiçao.Ja se ve que inesgotavel mina,nao olhavam nisso os industriosos !... E nao era so a gente do povo que dava credito as feitiçarias;conta-se que muitas pessoas da alta socidade de entao,iam as vezes comprar venturas e felicidade pelo comodo preço da pratica de algumas imoralidades e superstiçoes.
Pois ao nosso amigo Leonardo tinha-lhe tambem dado na cabeça tomar fortuna,e tinha isso por causa das contrariedades,em uns novos amores, que lhe faziam agora andar com a cabeça a roda. Tratava-se de uma cigana, o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga de Maria, e das cinsas ainda quentes de um amor mal pago,nascera outro que tambem nao foi muito bem aquinhoado,mas o homem era romantico e babao como se dizia naquele tempo,nao podia passar por uma paixaozinha. Como o oficio rendia e ele andava sempre apatacado,nao lhe fora dificil conquistar a posse do adorado objecto,porem a fidelidade, a unidade no gozo,que era o que a sua alma aspirava, isso nao o pudera conseguir: A cigana tinha pouco mais ou menos sido feita no mesmo molde da saloia. Por toda a parte ha sargentos, colegas e capitaes de navios,a rapariga tinha-lhe ja feito umas poucas,e acabava tambem de fugir-lhe de casa...
E' MAIS UM CLASSICO DA LINGUA PORTUGUESA..."